#02. ela só não quer mais ser sua amiga.
ou só uma reflexão sobre meus términos de amizades.
quando me mudei para a casa em que vivo hoje fiz amizade com a única outra menina da rua, eu tinha 5 anos e ela 6 anos. logo depois descobri que existiam outras crianças da nossa faixa etária que moravam na mesma rua, mas como éramos as únicas meninas ficamos próximas logo de cara, até porque somente uma casa separava as nossas (e era da avó dela). então a gente passava o dia todo brincando, conversando sobre coisas importantes de crianças, e era quase regra a gente lanchar durante a tarde na casa da vó dela.
conforme fomos crescendo a gente deixou de se ver todo dia, porque como tínhamos essa diferença de um ano entre nós não estudávamos na mesma sala e muito menos na mesma escola, mas nos finais de semana tudo voltava a ser como era: nós juntas. até que ela se mudou para minha escola, e passamos a ir juntas e voltar juntas, e hoje percebo que nosso afastamento se iniciou exatamente quando a gente se tornou adolescentes — apesar de que o término de verdade só veio depois de mais alguns anos.
na nossa adolescência ficou nítido o quão diferentes nós éramos, não tínhamos nada em comum, nada mesmo. quando comecei esse parágrafo fiquei pensando um tempão tentando lembrar de algo que a já tinha em comum mas não achei nada, não gostávamos do mesmo filme, do mesmo tipo de música, não tínhamos uma comida ou bebida favorita em comum, éramos totalmente o oposto uma da outra. foi nessa idade também que comecei a aceitar minha orientação sexual e explorar mais isso, e lembro que quando compartilhei isso com ela, ela disse que era besteira e com certeza essa fase iria passar. é engraçado quando paro para pensar sobre toda essa história porque em paralelo com essa amizade eu tinha outra que não importava o que eu falava ou fazia ela estaria lá me apoiando e me amando (e depois de 15 anos ela ainda está aqui me apoiando e me amando).
o nosso término de fato aconteceu pouco antes de eu entrar na faculdade, a gente não se via mais com certa frequência mesmo ainda morando próximas, não trocávamos mensagens, e nossas interações só aconteciam quando os nossos outros amigos da mesma rua se reuniam e chamavam a gente. eu só fui entender porque deixamos de sermos amigas esse ano quando um primo meu que mora em outro estado veio nos visitar e perguntou sobre ela e eu disse que a gente não se falava fazia anos e ele quis saber o motivo e falei que era porque não tínhamos mais nada em comum, e isso é tão verdade que hoje quando vejo os stories dela nem parece que em algum momento das nossas vidas éramos inseparáveis. e esse fim de amizade é o único em que não fiquei triste por ter acabado, e sendo sincera acho que era inevitável porque como eu seria amiga de alguém que não tem nada haver comigo? e fico meio aliviada por ter sido um término mútuo, eu não queria mais ser amiga dela e ela não queria mais ser minha amiga também.
conforme fui envelhecendo tive outros términos de amizade uns pelo mesmo motivo, outros porque houve envolvimento amoroso e no final não restou nenhum tipo de relacionamento, e outros em que a pessoa só sumiu da minha vida sem nenhuma explicação, e parece que quando você se torna adulto você faz duas escolhas em relação a amizade: tratar a amizade igual seus outros relacionamentos com carinho e dedicação, ou tratar com total indiferença.
ano que vem eu estaria completando 10 de anos amizade com uma amiga que recentemente se tornou ex amiga, e que fiquei tanto tempo em negação para aceitar que não iria mais existir uma amizade. depois que deixamos de frequentar o lugar em que a gente se via direto, o contato permaneceu no whatsapp no privado ou em um grupo com nossa outra amiga, e umas duas vezes ao mês nós três se reuníamos só para falar sobre nossas vidas. durante a transição da adolescência para a vida adulta ela iniciou um relacionamento que demandava mais atenção, e tudo bem. só que conforme o tempo foi passando ela desmarcava nossos encontros para ficar com a namorada, ou quando os encontros rolava tinham que ser na casa dela com a namorada presente, e depois de um tempo ela diminuiu a frequência de respostas para nossas mensagens. eu e minha amiga tentávamos encontrar toda uma justificativa para esse comportamento dela, de que ela não tinha obrigação nenhuma de conversar com a gente direto ou nos ver sempre, que a vida adulta era assim mesmo, e todo tipo de justificativa que na verdade era só uma maneira de confortar nós mesmas.
então ao mesmo tempo em que ela dava ghosting na gente por dias, sempre que a namorada dela estava ocupada ela aparecia mandando mensagem para gente sair com ela, e não explicava o porquê de ter sumido do nada. isso aconteceu por meses, até que começamos ver stories dela saindo com outros amigos dela, e comecei a achar que o problema fosse a gente. toda essa situação me corroeu por meses, eu não conseguia entender porque era tão difícil assim ela explicar o porque de estar agindo dessa forma com a gente, e isso foi pauta frequente na minha terapia por um longo tempo até eu finalmente começar a entender que o problema não era eu. minha outra amiga, a mesma do grupo do whataspp, ficou mais tempo em negação do que eu porque era difícil aceitar que nossa amizade acabaria dessa forma sem um ponto final definitivo, e em muitas das nossas conversas tentando entender a situação chegamos a conclusão de que ela só não gostava mais de ser nossa amiga e não sabia terminar isso por conta própria. isso me deixou tão triste na época porque eu amava muito ela e amava ser amiga dela, e comecei a ficar desesperada porque eu precisava muito de uma última conversa, de um ponto final nessa história.
hoje o que sinto sobre nosso término é um grande alívio. alívio de não precisar ficar pensando por horas a fio se fiz algo errado para ela se afastar, alívio de não precisar ficar medindo o que falo ou que faço com medo de que ela se afaste mais ainda, alívio de não viver mais uma relação sem reciprocidade. claro que sinto saudades dos bons momentos que vivemos, mas os maus momentos acabam ofuscando todo o resto.
quando pensei sobre o tema dessa news jurava que ia chorar escrevendo só por ficar lembrando principalmente dessa minha última ex amiga, e nada aconteceu, então acho que é sinal que a terapia está fazendo efeito (um beijo para minha psicóloga). e sinceramente, não quero mais ficar sofrendo sobre situações que não dependem totalmente de mim, acho que mereço viver com um pouco mais de felicidade na minha vida e comigo mesma.
e para todas essas pessoas que hoje já não fazem parte da minha vida, um obrigado e que sejam saudáveis e felizes com as escolhas de suas vidas.
da última publicação até essa se passaram um mês, e como me formei e estou de férias do trabalho estou vivendo somente de superficialidades então não tenho nada interessante para recomendar.
✸ obs: conversem com seus amigos!! e se não quiserem mais serem amigos deles avisem eles!!
✸ feliz natal!!!!! e dia 30 tem uma news muito importante: a retrospectiva do meu ano!!!!!!!
adorei o seu texto! Sempre me pega muito essa questão de amizade na vida adulta pq é BEM complicado, ou é intenso demais ou de menos! E o pior, eu sou sempre a amiga que se afasta. Mas faço isso quando não quero discutir sabe? Acho que na fase adulta discussões não cabem muitas vezes, é estranho.
seu texto me pegou em um lugar muito particular.... choro mais por fim de amizades do que de relacionamentos. esses dias peguei ônibus e minha ex melhor amiga de infância parou na minha frente e nem olhou na minha cara, ai como doeu...